quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

INCLUSÃO: DEFICIENTES NA IGREJA



Quantas pessoas deficientes temos alcançado em nossas ações? 

Muito se tem falado sobre a inclusão social, sobre a inclusão de pessoas com deficiências na sociedade. Mas, e a Igreja, está atenta para esta necessidade?

Temos que propiciar condições para que estes se acheguem. Temos que amá-los, entendê-los e servi-los.
Para abordar este tema, o Instituto Jetro entrevistou o Pr. Fabio Luiz Vedoato. Sua experiência como pastor, deficiente auditivo e coordenador do Ministério Lição de Amor da IPI de Londrina, remete-nos para a reflexão sobre o quanto nossas ações e igrejas são inclusivas.  
No Brasil existem mais de três milhões de surdos que devem ser alcançados pela graça de Deus e, atualmente, existem nove pastores surdos de outras denominações. O Rev. Fabio é o segundo pastor surdo do Brasil, sendo o primeiro da IPIB.
Graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana e Seminário Teológico Rev. Antônio de Godoy Sobrinho. Foi ordenado para o ministério pastoral em dezembro de 2003 . É coordenador do Ministério Lição de Amor e casado com Sandra Cristina Malzinoti Vedoato.

Foto do Pr. Fabio Vedoato 

Qual a importância de um ministério/projeto que trabalha com os portadores de deficiências física e mental na Igreja?

Fabio Luiz - A importância está em "assumir" o caráter de Jesus, pois Ele foi "inclusivo" o tempo todo, isso é uma constatação ao lermos os evangelhos.
Imagino que se Jesus fundasse uma igreja denominacional seus membros seriam os cegos, os surdos, os paralíticos, os órfãos, as viúvas, os enfermos e os ditos "normais"  é que seriam os "incluídos", não é mesmo! Jesus amou a todos sem fazer distinção por causa da condição física ou intelectual.

Em sua opinião, a maioria das igrejas não têm muitos cegos, surdos, e tantos outros deficientes por não conseguir se comunicar ou até mesmo expressar o amor de Deus por eles?

Fabio Luiz - Não acredito que a dificuldade seja por não saber se comunicar, pois o deficiente físico, mental e o cego não necessitam de um meio de comunicação diferenciada, porém de adaptações arquitetônicas aos deficientes físicos, material didático adequado aos deficientes mentais e Braille aos cegos. Somente em relação aos surdos que há a necessidade da comunicação em língua de sinais que em contrapartida é o ministério mais comum desenvolvido nas igrejas.

Como surgiu, por que e quais as atividades que são desenvolvidas pelo Ministério Lição de Amor?

Fabio Luiz - Comemoramos este ano 20 anos de ministério. O ministério Lição de amor surgiu em 1992 tendo como precursor uma revelação de Deus ao Rev. Messias Anacleto Rosa em um culto dominical do texto de Isaias 35:6 posteriormente a revelação foi cumprida através do chamado e disposição da Maria Aparecida Silveira "Cidinha" e do Presb. Aldo Costa Do´livier com o objetivo de evangelizar portadores de necessidades especiais nas diversas áreas e oferecendo também suporte nos diversos níveis (educacional, profissional e assistência social) aqueles que necessitavam.
Atualmente o ministério atende deficientes mentais e surdos, embora permaneça o desejo de atendimento as demais áreas - deficientes físicos e cegos. As atividades desenvolvidas são evangelismo, discipulado, participação nos cursos de educação cristã, eventos de evangelismo, palestras temáticas, acampamento anual voltado aos surdos e ouvintes tendo a participação de pessoas de diversas regiões do país, reuniões de célula semanalmente, culto em LIBRAS aos sábados, interpretação dos cultos de celebração, curso de LIBRAS, encaminhamento ao mercado de trabalho, acompanhamento externo de intérpretes da LIBRAS de acordo com a demanda.

Além das questões sociais de integração, educação, há a preocupação de como incluir a fé, como colocar a espiritualidade de uma forma que esta possa ser desenvolvida levando em conta capacidades e limitações de uma pessoa deficiente. Como podemos fazer isto? Como promover laços de amizade na comunidade inserida? E numa Igreja pequena?

Fabio Luiz - Jesus ensinou e só depois multiplicou os pães e os peixes para alimentar a multidão - Marcos 6:34 a 44, acredito que em primeiro lugar está o ensino dos princípios bíblicos e depois a assistência social, este é um fator importante para que não haja um sentimento de "barganha". Outro ponto essencial está relacionado ao desenvolvimento do comportamento que Jesus teve em relação a Pedro em Lucas 5:1 a 11 Jesus não deu a Pedro os peixes, mas lhe deu a dica de como consegui-los, é necessário oferecer as "redes" não os peixes. A espiritualidade se desenvolve com o ensino e o modelo de vida nos princípios bíblicos, pode diferenciar no método (língua ou material didático de apoio), no entanto a fonte é a mesma, a "Bíblia Sagrada". Os laços de amizade devem ser desenvolvidos por meio do relacionamento na vida diária da igreja, seja ela de grande ou pequeno porte.

O preconceito para com os deficientes vai desde alguns acreditarem que os deficientes necessitam ser dependentes dos outros, são maus ajustados e infelizes; são "marcados" e menos inteligentes; são improdutivos; não têm os mesmos relacionamentos das pessoas ditas "normais"; merecem compaixão e piedade; devem estar em instituições especializadas ou ainda, ao fato de acharem que estes estão sendo "punidos" por algum pecado. Você acredita que diminuiu o preconceito das mais variadas formas na sociedade e na Igreja?

Fabio Luiz - Preconceito é um juízo preconcebido, um desconhecimento pejorativo de uma pessoa ou grupo social e a discriminação é um comportamento de não aceitação. Ambos ainda existem quer seja velado ou manifesto, como em empresas que atribui remuneração desigual pela mesma função desenvolvida devido à deficiência, falta de acessibilidade nos lugares públicos e privado, embora a legislação cada vez mais tenha apoiado e assegurado modificações. Agora um lugar que não deve existir preconceito e discriminação é na igreja por dois fortes motivos. Primeiro, a igreja deve ser o lugar da real prática dos princípios bíblicos como um deles " Amar a Deus de todo coração...amar ao próximo como a si mesmo..." Marcos 12:33 e o segundo, a igreja não deve estar alienada da sociedade, ou seja, a igreja é chamada para "fora", ao contrário disso é religiosidade.

Qual a visão de um deficiente para com a Igreja e quais são as suas maiores queixas e alegrias?

Fabio Luiz - A igreja é o lugar onde a pessoa recebe o alimento espiritual que fortalece para distribuir aos outros, a alegria está em fazer parte da família e do corpo de Cristo por meio da comunhão vertical e horizontal. A queixa está no comportamento de alguns líderes que impõe a cura física, são pessoas que olham para a "falta" da audição, visão, membro do corpo e não para o coração. A vontade de Deus é soberana e inquestionável, Jesus ao referir sobre o cego de nascença disse "Isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus - João 9:1 a 3. 

A deficiência é uma condição não é uma doença, é incomum encontrar um deficiente se lamentando por causa da sua condição física. A limitação física, o estigma, a discriminação ao longo do tempo nos tornam resilientes. A necessidade espiritual, emocional e física em Cristo são supridas. Ouvimos, locomovemos e enxergamos com o coração buscando alcançar a mente de Cristo.


Levando em conta sua experiência como pastor e deficiente auditivo, quais os conselhos para pastores e líderes para uma verdadeira inclusão dos deficientes em suas igrejas ?

Fabio Luiz - A inclusão tem sido tão propagada atualmente, porém há mais de dois mil anos Jesus já fazia inclusão. Minha palavra aos pastores e líderes é que estimulem seus membros a praticar o "ide" do Senhor - Marcos 16:15 aqueles que estão tão próximo, na faculdade, no trabalho, na vizinhança e aos pastores especificamente a orientação é que não deleguem todas as funções de cuidado ao líder do ministério, vocês devem pastorear suas ovelhas, elas estarão sob seu cuidado pastoral. João 10: 11, 14 e 16 diz que o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas, as conhece e é conhecido por elas e sua função é agregar aquelas que ainda não são do seu aprisco para que tenham um rebanho e um pastor.

Texto originalmente publicado em 2012. Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site http://www.institutojetro.com/ e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com

No mesmo tema, um ministério voltado para a inclusão na igreja: Ministério Eficiente, da Primeira Igreja Batista de Curitiba: http://www.pibcuritiba.org.br/project/ministerio-com-especiais/

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