quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Uma Igreja que casou-se com o Sistema


 Pastor João A. de Souza Filho


Eu tinha apenas sete anos de idade quando minha mãe aceitou a Cristo numa denominação pentecostal. Lá se vão quase cinqüenta anos! A exigência de se viver um padrão cristão e a disciplina rígida a que nos submetemos desde os primeiros dias da Escola Dominical marcaram nossas vidas.

Hoje consigo perceber os resultados no seio da família: Cansada e numa cadeira de rodas, mamãe não consegue dimensionar o rastro de seu testemunho: 1 filho pastor e escritor, uma filha esposa de pastor e pregadora, seis netos no ministério em tempo integral, afora tantos outros filhos, noras, genros, netos e bisnetos comprometidos em suas congregações com o evangelho de Cristo Jesus!

No decorrer dos anos entendi que o mundo olha para a igreja esperando nela ver um diferencial, um estilo de vida que contraste com o estilo de vida da sociedade.

O mundo costumava ver a igreja sob a ótica do respeito, de vida transformada, de gente diferente, de pessoas de bens - de cujo seio saiam empregados submissos, donde empregadas domésticas eram requisitadas, de gente que pagava em dia suas contas - em que o dono do armazém vendia fiado na caderneta sabendo que receberia seu dinheiro.

No dizer de Pedro, sem amoldar-se às paixões da vida mundana que tínhamos antes de receber a Cristo (1 Pe 1.14). No dizer de Paulo, viver sem conformar-se com esse mundo (Rm 12.2) mostrando ao mundo "como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade" (1 Tm 3.15).

Recordo-me que em 1962 quando a igreja pentecostal foi grandemente perseguida em Porto Alegre pelos meios de comunicação contrários à realização de uma campanha evangelística, um cidadão foi para o rádio defender os crentes. Sua defesa: os crentes eram seus melhores funcionários!

No entanto, no decorrer dos anos a igreja incorporou em seu seio os valores mundanos, a filosofia do mundo, seus modismos, deixando-se levar ao sabor do sistema. Confundiu contextualização com contemporização - não soube trabalhar no contexto da sociedade e acomodou-se à sociedade que ela tanto insiste em mudar.

Ainda hoje o mundo espera ver na igreja o diferencial entre aquilo que frustradamente vive e o que espera encontrar na igreja - e quase não o encontra! Os pastores, antes serviçais, em cujas casas os pobres do bairro encontravam lenitivo e alimento, escassearam!

No lugar desses surgiram pastores sonhadores de riquezas, profetas balaônicos de olho nos presentes de Balaque; ricos, abastados, vivendo em condomínios fechados, alienados da própria membrezia, vivendo na opulência e no fausto. Alguns optaram por uma teologia de prosperidade que contrasta com a simplicidade de se viver o evangelho.

Vivem longe de suas paróquias, enquanto no passado o certo era viver entre os paroquianos, entre as pessoas do mesmo bairro. O pastor outrora tão presente no lar dos fiéis, são vistos de longe, e na imensidão de seus templos parecem figuras minúsculas gesticulando no púlpito, a menos que sejam projetados no telão ou vistos na tela da tevê.

A nova geração de crentes - cujos avós eram tão pobres, mas fiéis - melhorou de vida, subiu socialmente para a classe média e, até mesmo alguns ricos despontaram no cenário evangélico. Membros de igrejas, antes considerados proletariados, prosperaram, e hoje fazem parte da nata industrial e comercial da nação, no entanto, muitos deles se esqueceram dos exigentes padrões bíblicos: tratam seus funcionários da mesma maneira - quando não pior - que os patrões mundanos.

Aliás, alguns empresários que não se confessam cristãos têm ótima reputação dos seus funcionários; por outro lado, alguns crentes sequer querem trabalhar para empregadores evangélicos. Da mesma forma, os empregados evangélicos perderam o respeito e já não se submetem aos patrões como é ensinado no Novo Testamento. Costumam ser piores do que os descrentes.

Para encobrir o que somos, criamos a moda gospel, buscando parecer que o estilo de vida cristã, sua música e mensagem tenham adquirido nova roupagem. Pelo menos existe o charme glamouroso (desculpe-me o pleonasmo) na substituição do termo em português pelo inglês! E a geração gospel vai para a televisão falar de Cristo e do novo nascimento, literalmente sem roupagem alguma!

Mulheres sensuais e seminuas com um palavreado profano - não que queiramos que todos aprendam o evangeliquês - afirmam ser membros dessa ou daquela igreja. Não apenas as mulheres, mas também os homens confundem pelo visual e palavreado a mensagem do evangelho!

Apesar da obscenidade e do mundanismo que repugna o mais vil pecador, seus pastores sorriem e caladamente consentem, afinal o nome de sua igreja e seus nomes podem ser ouvidos pela mídia nacional. Outros, vestindo a roupagem tradicional dos evangélicos, sugam dos pobres o dinheiro e os bens em troca de um compromisso com Deus!

Além destes, surgiram pastores, pregadores e cantores, em todas as denominações, que mesmo sem aquela extravagante aparência, sem as requebradas coreografias e palavreado mundano - mantendo a antiga forma de vestir e o visual tradicional dos crentes - mas que em nada diferem em seu comportamento e moral daqueles que não conhecem a Jesus, nem por ele foram transformados, agregam-se à classe vil protagonizada por Jezabel e Balaão.

Seus cachês são os mais altos e seu comportamento, pior! São pessoas que, mesmo mantendo a postura evangelical, a aparência tradicional, repito, encaixam-se perfeitamente no perfil traçado por Pedro e Judas (2 Pe 2.10-22 e Jd 8-16).

A opção de ser crente, de ser um fiel discípulo de Jesus - às vezes uma decisão difícil sabendo-se que há um preço a ser pago em seguir a Jesus - já não é levado em conta por boa parte dos que se dizem cristãos, por pessoas que dão péssimo testemunho, pois seu comportamento no campo de sua atividade profissional contradiz seu palavreado e suas afirmações de fé. E isso vai do carpinteiro ao artista, da empregada doméstica ao famoso atleta, do estudante ao político.

Algumas igrejas parecem ter perdido o rumo. A quantidade de divórcios entre seus membros é testemunha gritante de como o evangelho diluiu-se no meio de uma sociedade paganizada. A santidade de alguns jovens que se propõem viver castos até o casamento é motivo de chacota no seio da própria congregação.

À essas igrejas, aos seus pastores, cantores, líderes e políticos cristãos, o profeta ergue a voz em protesto!

A mensagem de Amós precisa ecoar novamente na igreja, pois tem uma palavra de alerta aos membros da comunidade da fé. Ele não apenas diria "afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias da tua lira" (Am 5.23), acrescentaria:

"Afaste de mim o palavreado das mensagens que você prega, pois fecho os ouvidos quando você sobe no púlpito; cerro os olhos para não ler o que você escreve; detesto quando você menciona o meu nome; sua música é muito linda, sua banda é perfeita, sua voz belíssima, mas o som de sua melodia chega aos meus ouvidos desafinado pelo estilo de vida perverso que você tem; o cheiro que você exala provoca-me náuseas...".

Amós clama pelas ruas:

"Vocês oprimem o pobre e o forçam a dar-lhes trigo" - (Am 4.11), isto é, sugam dos pobres todo o dinheiro que eles têm para satisfazer os desejos pessoais de vocês, para construir suntuosas catedrais e comprar aptos. e terras. "Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais" (4.12b), isto é, vocês os mantêm sob o jugo da autoridade, ameaçando-os e intimidando-os com a possibilidade de exclusão pública do rol de membros. A opressão da vara do pastor, de todas, é a pior!

Amós clama na igreja:

"Vocês se deitam em camas de marfim e se espreguiçam em seus sofás" (6.4), enquanto os pobres da igreja dão duro e trabalham; enquanto seus obreiros andam em ônibus lotados, à pé, suando para fazer a obra de Deus, vocês como líderes, do alto de sua autoridade, descansam no sofá repassando um a um as centenas de canais de tevê, deleitando-se em viagens, dormindo nos mais caros hotéis e freqüentando os shoppings da moda.

Ele diz aos cantores e grupos que cobram altos cachês para se apresentarem nas igrejas:

Vocês "dedilham suas liras como Davi e improvisam em instrumentos musicais" (Am 6.5), mas não têm o coração de Davi; buscam, isso sim, seu próprio bem-estar e, depois de cantarem e louvarem nos cultos das igrejas ou nos festivais, fecham atrás de si as portas do quarto de hotel e deleitam-se na fartura da melhor comida e das bebidas mais caras, quando não em orgias sexuais!

"Vocês bebem vinho em grandes taças - não apenas vinho mas toda sorte de bebidas caras e finas nas festas de gente ímpia que detesta o nome de Cristo - e se ungem com os mais finos óleos - têm aparência de possuir grande unção e poder, confundem poder e unção com habilidade e profissionalismo; fazem do ministério seu ganha-pão - mas não se entristecem com a ruína de José - isto é, vocês não choram, nem clamam, nem jejuam, nem se importam com a ruína da igreja e do mundo! Pensam apenas em vocês mesmos!" (Am 6.6).

A bússola da verdade deve urgentemente ser consultada para que a igreja ande na rota traçada por Deus! Quando isso acontecer, o mundo voltará a olhar a igreja como uma sociedade séria, diferenciada; como sociedade que tem rumo próprio.

Políticos evangélicos, firmem-se na verdade, pois o mesmo Deus que vocês alegam que servem, haverá de sacudir os fundamentos da estrutura política, como tantas vezes o fez, expondo-lhes à ignomínia. A mídia que vocês tanto amam é laço que lhes prenderá os pés; mordaça que lhes impedirá de falar; espinho que lhes cegará os olhos - essa mesma mídia impedir-lhes-á a caminhada, mas por certo, se vocês tiverem temor de Deus, haverão de se firmar no Senhor, servindo-lhe e apenas a ele de todo o seu coração!

"Ouçam esta palavra, vocês (...) que estão no monte de Samaria - Os políticos. Vocês que estão em posição de autoridade, nas casas do povo - vocês que oprimem os pobres e esmagam os necessitados - cujos altos salários contrastam com o pobre salário mínimo, e com o baixo reajuste salarial dos velhos e velhas aposentados, vocês que dizem - tragam bebidas e vamos beber - isto é, que vivem em festas, no meio da fartura" (Am 4.1). Ganham altos salários para fazer pequenos discursos nas Assembléias e Câmaras do povo. Até quando suportará Deus o hálito das festas e da embriagues?

As eleições estão chegando e teremos que suportá-los novamente bafejando o odor do mundo de Maquiavel sobre os púlpitos de nossas igrejas! Será insuportável, uma vez mais, observar pastores, cantores e líderes seguindo o curso do mundo governado pelo diabo - seguindo a carreira do mundo!

Que Deus tenha misericórdia de nós e abra-nos os olhos para enxergarmos na sua bússola o Norte a seguir. Que a igreja volte a andar no caminho da santidade e se diferencie do mundo ao seu redor!


domingo, 28 de setembro de 2025

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, um texto de Charles Swindoll

 


UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM

Charles R. Swindoll

 

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, as coisas vão ser bem diferentes. A garagem não ficará lotada de bicicletas, de trilhos de trenzinhos elétricos sobre madeira compensada, de cavaletes rodeados de tábuas, pregos, martelo e serra, de "projetos experimentais" inacabados e da gaiola do coelho. Poderei estacionar os dois carros nas vagas certas e nunca mais tropeçarei em pranchas de skate, pilhas de papéis (guardados para colaborar com as obras assistenciais da escola) ou sacos com comida para coelhos — tudo espalhado pelo chão.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, a cozinha ficará incrivelmente arrumada. A pia não ficará cheia de pratos sujos, a lixeira não ficará abarrotada de elásticos e de copos de papel, a geladeira não ficará lotada de frascos de leite, e nunca mais perderemos as tampas dos vidros de geleia e de ketchup e dos potes de manteiga de amendoim, de margarina e de mostarda. A jarra d'água não será recolocada vazia, as fôrmas de gelo não ficarão de fora durante a noite, o liquidificador não ficará sujo, seis horas a fio, de resíduos de vitamina preparada à meia-noite, e o mel ficará dentro do seu pote.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, minha querida esposa terá tempo para vestir-se vagarosamente. Terá tempo para um banho quente demorado (sem receio de ser interrompida por gritos assustados), tempo para cuidar das unhas da mão (e dos pés, se desejar!) sem ter de responder a uma dúzia de perguntas e de revisar a grafia correta das palavras, tempo para cuidar dos cabelos durante a tarde sem ter de marcar um horário espremido entre uma visita ao veterinário para levar um cão doente ou uma ida ao ortodontista para levar uma criança de mau humor por ter perdido seu boné.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, o aparelho chamado "telefone" ficará desocupado, sem parecer ter nascido grudado ao ouvido de um adolescente. Ele simplesmente ficará lá... silencioso e, por incrível que pareça, pronto para ser usado! Não ficará melado de batom, saliva, maionese, migalhas de salgadinhos ou com palitos de dentes enfiados nos pequenos orifícios.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, eu serei capaz de enxergar através dos vidros do carro. Impressões digitais de mãos e pés, lambidas e sinais de patas de cachorro (ninguém sabe como) serão inexistentes. O banco traseiro não ficará em completa desordem, não nos sentaremos mais em cima de pedrinhas e lápis de cor, o tanque de combustível estará sempre cheio e (glória a Deus!) não terei de limpar mais uma vez a sujeira do cachorro.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, poderemos voltar a conversar normalmente, isto é, conversar como qualquer pessoa normal. As frases não serão intercaladas de grosserias. "Legal!" será uma expressão em desuso. Não haverá batidas na porta do banheiro acompanhadas de "Ande logo, estou apertado!" e "É a minha vez" não necessitará da presença de um árbitro. E aquele artigo de revista será lido sem interrupções e, depois, discutido longamente, sem que o pai e a mãe tenham de esconder-se no sótão para terminar a conversa.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, não vamos mais precisar correr atrás do rolo de papel higiênico. Minha esposa não vai perder as chaves. Não esqueceremos a porta da geladeira aberta. Eu não vou ter de inventar novas maneiras de desviar a atenção das máquinas que vendem gomas de mascar... nem ter de responder à pergunta "Papai, não é pecado você dirigir a 75 quilômetros por hora quando a placa diz que o limite é de 55?"... nem prometer dar um beijo de boa-noite no coelho... nem ter de ficar acordado até altas horas esperando a chegada deles... nem ter de pedir licença para falar durante o jantar... nem ter de suportar socos de brincadeira, mas que são realmente doloridos.

Sim, um dia, quando as crianças crescerem, as coisas vão ser bem diferentes. Elas começarão a partir, uma após a outra, e a casa voltará a ficar em ordem e talvez até com um toque de elegância. O tinir da porcelana e da prata será ouvido em ocasiões especiais. O som do fogo crepitando na lareira ecoará por todo o saguão da casa. O telefone estará estranhamente mudo. A casa estará sossegada... calma... sempre limpa... e vazia... e passaremos o tempo aguardando a chegada de Um Dia mas lembrando-nos do Ontem. E pensando: "Talvez a gente possa cuidar dos netos para que esta casa volte a ter vida!"


Do livro Histórias para o Coração, de Alice Gray (org.)


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

VIVENDO O LUTO – Pesquisadora compartilha maneiras baseadas em evidências para enfrentar os primeiros dias da perda



 Liza Barros-Lane

The Conversation

As enchentes de 4 de julho no Condado de Kerr, Texas , causaram ondas de choque por todo o país. Agora que a maioria dos enterros das vítimas já terminou , o peso da dor está apenas começando para os entes queridos que ficaram. É a devastação diária de um mundo virado do avesso , onde a ausência é flagrantemente presente, nada parece familiar e a vida é interrompida em uma quietude vertiginosa.

Conheço essa dor intimamente. Sou pesquisadora do luto , professora de serviço social e viúva . Perdi meu marido, Brent, em um acidente de afogamento quando eu tinha 36 anos. Ele desapareceu dois dias antes de seu corpo ser encontrado.

Brent era um psicólogo especializado em luto, e fomos treinados para ajudar outras pessoas em meio ao sofrimento. No entanto, nada poderia me preparar para a minha própria perda.

Pesquisas e experiências pessoais me mostraram que perdas profundas perturbam o sistema nervoso , desencadeando oscilações emocionais intensas e desencadeando uma cascata de sintomas físicos. Esse tipo de dor pode tornar momentos comuns insuportáveis, portanto, aprender a lidar com ela é essencial para sobreviver ao luto inicial . Felizmente, existem ferramentas baseadas em evidências para ajudar as pessoas a superar as fases mais difíceis da perda.

Por que o luto precoce parece tão desorientador

Perder alguém essencial à sua vida diária destrói as rotinas que antes o ancoravam.

Perdas traumáticas , aquelas que chegam de repente, violentamente ou de maneiras que parecem horríveis, carregam um tipo diferente de peso : a angústia de como a pessoa morreu, as perguntas sem resposta e o choque de não ter tempo para se preparar ou dizer adeus.

Atos cotidianos, como comer ou ir para a cama, podem destacar a ausência e desencadear tanto luto quanto medo. Esses momentos revelam que o luto é uma experiência que envolve todo o ser . Ele afeta não apenas nossas emoções, mas também nossos corpos, pensamentos, rotinas e nossa sensação de segurança no mundo.

Emocionalmente, o luto pode ser caótico. As emoções oscilam de forma imprevisível , de soluços em um momento a entorpecimento no outro. Profissionais de saúde mental chamam isso de desregulação emocional , que inclui sentir-se desconectado das emoções, reagir de menos ou de mais, ficar preso em um estado emocional ou ter dificuldade para mudar de perspectiva.

Cognitivamente , a concentração parece impossível e os lapsos de memória aumentam. Mesmo sabendo que o ente querido se foi, o cérebro procura a pessoa, esperando sua voz ou mensagem, uma resposta natural de apego que alimenta a descrença, a saudade e o pânico.

Fisicamente , o luto inunda o corpo com hormônios do estresse, levando à insônia , fadiga, dores, peso e aperto no peito. Após a perda de alguém próximo , estudos sugerem um breve aumento no risco de mortalidade , muitas vezes devido à sobrecarga do coração, do sistema imunológico e da saúde mental.

Espiritual e existencialmente, a perda pode abalar profundamente suas crenças e fazer com que o mundo pareça confuso, vazio e sem significado.

Pesquisas sobre luto confirmam que esses sintomas intensos são típicos por algum tempo , exacerbados após uma perda traumática.

Encontrando uma nova linha de base

Com o tempo, a maioria das pessoas começa a se estabilizar. Mas, após uma perda traumática, não é incomum que essa sensação de caos persista por meses ou até anos. No início, trate-se como alguém se recuperando de uma grande cirurgia: descanse com frequência, mova-se lentamente e proteja sua energia.

No início, você pode conseguir realizar apenas pequenas ações familiares, como escovar os dentes ou arrumar a cama, que lhe lembrem: "Ainda estou aqui". Tudo bem. No momento, sua única tarefa é sobreviver, um passo administrável de cada vez .

Ao enfrentar as responsabilidades do dia a dia novamente, reserve um tempo para descansar. Depois da morte de Brent, levei um colchonete para o trabalho para me deitar sempre que a fadiga ou o peso emocional se tornassem insuportáveis. Na época, eu não reconhecia isso como controle da dor, mas isso me ajudou a sobreviver aos dias mais difíceis.

Segundo os teóricos do luto, uma das tarefas mais importantes no início do luto é aprender a lidar e suportar a dor emocional . Os enlutados devem se permitir sentir o peso da perda.

Mas o gerenciamento da dor não se resume apenas a conviver com a dor. Significa também saber quando se afastar sem cair na evitação, o que pode levar ao pânico, à dormência e à exaustão. Como Brent costumava dizer: "O objetivo é pegar e largar a dor". Fazer pausas intencionais, seja por distração ou descanso, pode possibilitar o retorno à dor sem ser consumido por ela.

Também envolve se acalmar quando as ondas de tristeza chegam.

Cinco maneiras pequenas, mas poderosas, de enfrentar momentos dolorosos

Aqui estão cinco ferramentas simples, baseadas em evidências, projetadas para tornar os momentos dolorosos mais suportáveis para você ou um ente querido enlutado. Elas não apagam a dor, mas podem aliviar rapidamente as arestas cruas e ásperas do luto inicial.

1. Toque suave para aliviar a solidão

Coloque uma das mãos no peito, na barriga ou delicadamente na bochecha – onde quer que você instintivamente alcance quando sente dor. Inspire lentamente. Ao expirar, diga suavemente em voz alta ou mentalmente: "Isso dói". Depois, "Estou aqui" ou "Não estou sozinho nisso". Fique assim por um ou dois minutos, ou pelo tempo que for confortável.

Por que ajuda: O luto muitas vezes deixa você carente de contato físico, ansiando por conexão física. O autotoque relaxante , uma prática de autocompaixão, ativa o nervo vago, que ajuda a regular a frequência cardíaca, a respiração e a resposta calmante do corpo após o estresse. Este gesto oferece calor e aterramento , reduzindo o isolamento causado pela dor.

2. Surfando na onda

Quando o luto surgir, programe um cronômetro para dois a cinco minutos. Concentre-se na emoção. Respire. Observe-a sem julgamentos. Se for demais, distraia-se brevemente, como contando para trás, depois volte ao sentimento e observe como ele pode ter mudado.

Por que ajuda: As emoções surgem como ondas. Essa habilidade ajuda você a permanecer presente durante surtos emocionais sem entrar em pânico e a aprender que esses surtos atingem o pico e passam sem nos destruir. Ela se baseia na Terapia Comportamental Dialética , ou TCD, um tratamento baseado em evidências para pessoas que sofrem de desregulação emocional intensa .

3. Calmante com texturas suaves

Enrole-se em um cobertor macio . Segure um bicho de pelúcia. Ou acaricie o pelo do seu animal de estimação. Concentre-se na textura por dois a cinco minutos. Respire lentamente.

Por que ajuda: A suavidade sinaliza segurança ao seu sistema nervoso. Ela conforta quando a dor é intensa demais para ser descrita em palavras.

4. Esfriamento excessivo

Terapeutas costumam ensinar um conjunto de técnicas de TCD chamado TIPP para ajudar as pessoas a lidar com a sobrecarga emocional durante crises como o luto. TIPP significa:

Temperatura: Use o frio, como segurar gelo ou aplicar água fria no rosto, para desencadear uma resposta calmante.

Exercício intenso: faça pequenos movimentos para liberar a tensão.

Respiração ritmada: inspire lenta e controladamente para reduzir a excitação. Inspire lentamente por dois a quatro segundos e expire por quatro a seis segundos.

Relaxamento muscular progressivo: contraia e relaxe grupos musculares individuais para aliviar o estresse.

Por que ajuda: Durante o luto, o sistema nervoso pode oscilar entre estados de alta excitação, como pânico e taquicardia, e estados de baixa excitação, como dormência e tristeza.

As respostas individuais variam, mas a exposição ao frio pode ajudar a acalmar o coração acelerado em momentos de sobrecarga, enquanto a respiração acelerada ou o relaxamento muscular aliviam a dormência e a tristeza.

5. Avalie sua dor

Classifique sua dor de 1 a 10. Depois, pergunte: "Por que é 7 e não 10?" Ou "Quando melhorou um pouco?". Escreva o que ajudou.

Por que ajuda: Sentir até mesmo um pequeno alívio gera esperança. Lembra que a dor não é constante e que pequenos momentos de alívio são reais e significativos.

Mesmo com essas ferramentas, ainda haverá momentos insuportáveis, quando o futuro parecerá inalcançável e sombrio.

Nesses momentos, lembre-se de que você não precisa seguir em frente agora. Este simples lembrete me ajudou nos momentos em que me senti completamente em pânico; quando não conseguia ver como sobreviveria à próxima hora, muito menos ao futuro. Diga a si mesmo: Apenas sobreviva a este momento. E depois ao próximo.

Conte com amigos, conselheiros ou linhas diretas como a Disaster Distress Hotline (1-800-985-5990) ou a Suicide and Crisis Lifeline (988). Se a dor emocional profunda continuar a dominá-lo, procure ajuda profissional .

Com apoio e cuidado, você começará a se adaptar a este mundo transformado. Com o tempo, a dor pode amenizar, mesmo que nunca desapareça completamente, e você poderá se ver reconstruindo lentamente uma vida moldada pela dor, pelo amor e pela coragem de seguir em frente.

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