Uma conversa com a psicóloga Denise Michelli Avalone, coordenadora do Ambulatório de Atendimento ao Adolescente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Os pais têm um papel muito importante na prevenção ao uso de drogas na infância e na adolescência. Quem garante é a coordenadora do Ambulatório de Atendimento ao Adolescente da Unifesp, psicóloga Denise Michelli Avalone. A educação antidrogas deve começar desde a mais tenra idade e uma boa relação familiar funcionará como o melhor programa de prevenção contra as drogas.
Segundo ela, a maior parte dos estudos científicos preconiza que quanto mais cedo for iniciada a prevenção, melhor. Esse trabalho começa com o investimento afetivo dos pais para o desenvolvimento e o fortalecimento dos vínculos com os filhos.
Quanto mais cedo, melhor
É com a proximidade e a intimidade construída desde os primeiros meses de vida que os pais devem partir para o diálogo sobre as drogas. As conversas podem começar a partir dos seis anos de idade, mas deve respeitar as particularidades de cada faixa etária.
A prevenção ao álcool e ao tabaco é o primeiro passo. Antes de conversar sobre as drogas mais pesadas, é preciso ensinar o quanto é importante uma boa qualidade de vida e desconstruir a glamorização do cigarro e das bebidas. Os valores transmitidos aos filhos nessa fase serão muito importantes quando eles começarem a ter contato com outras drogas.
As conversas sobre outras substâncias são recomendadas para crianças pequenas quando os pais, algum parente ou pessoa próxima forem usuários e se o consumo interferir no dia a dia delas. Do contrário, antes de os 10 ou 12 anos, não há curiosidade sobre drogas. Diferente do cigarro, que chama a atenção pelo contato direto com pessoas que fumam e pela presença da fumaça.
Na adolescência, os pais podem fazer referências a maconha, cocaína, crack e outras substâncias. Por volta dos 14 anos, os adolescentes têm como abstrair algumas ideias e entender todo o contexto das drogas.
Segundo a psicóloga, a autoestima e o senso de autoproteção é que mantêm os adolescentes longe das drogas. Essas capacidades são desenvolvidas em relações familiares com segurança, proximidade e intimidade. Desde muito cedo, os pais precisam preparar os filhos para o enfrentamento de situações de frustração de maneira positiva. A dificuldade para lidar com coisas negativas aparece na adolescência quando não houve treino durante a infância. O adolescente com uma boa bagagem emocional pode até experimentar droga, mas não fica preso a ela. Depois de saciar a curiosidade, ele sai.
A professora também recomenda que as crianças e os adolescentes sejam constantemente monitorados. No entanto, ela alerta que a prevenção não deve seguir um modelo baseado em amedrontamento. É importante manter sempre a possibilidade de diálogo e de proximidade. “Monitorar não é revirar o armário, vasculhar a mochila, é acompanhar muito de perto, saber o que está acontecendo com o filho”, explicou.
Relações perigosas
Ela contou que os adolescentes usuários, que não abandonam o consumo depois de um período de curiosidade, costumam dizer coisas muito parecidas quando são atendidos nos programas de recuperação: “O meu pai nunca soube do que eu gosto, nunca soube o nome do meu melhor amigo”, “a minha mãe não sabia com quem eu saia, onde eu estava, nunca conheceu os meus amigos.”
A família precisa estar atenta para identificar quem está propenso a se envolver com drogas e intervir nas relações sociais quando necessário. Segundo a psicóloga, os pais devem limitar e até impedir amizades ou relacionamentos que coloquem os filhos em risco.
Por mais que o assunto seja difícil, não devemos fugir dele. De acordo com ela, muitas vezes isso acontece, porque os pais e as escolas não sabem o que falar nem o que fazer, prejudicando ou impedindo uma ação preventiva ou corretiva quando o problema já está instalado.
http://blogs.band.com.br/maenaweb/2011/06/07/prevencao-as-drogas-deve-comecar-na-infancia/
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