quarta-feira, 6 de maio de 2009

Mãe, profissional gabaritada

Fernando Pessoa

Uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista. Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar.

- "O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.
- Claro que tenho um trabalho, exclamou Anne. "Sou mãe".
- "Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente.

Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica... A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.

- "Qual é a sua ocupação?" Perguntou.

Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:

- "Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".

A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem... Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.

- Posso perguntar – disse-me ela com novo interesse – o que faz exatamente? Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:

- "Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas)".

Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente me abriu a porta. Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3. Do andar de cima, pude ouvir o meu novo experimento (um bebê de seis meses), testando uma nova tonalidade de voz. Senti-me triunfante. Maternidade... Que carreira gloriosa!

Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas". As bisavós: "Doutora- Executiva- Sênior". E as tias: "Doutora - Assistente".

Mande isto às mães, avós, bisavós e tias que conheças. Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras. Doutoras na Arte de fazer a vida melhor!

"Somos do tamanho dos nossos sonhos".


Fonte: Jornal Urro do Leão

Um comentário:

Cíntia Mara disse...

Muito interessante o texto!

Bom fim de semana!

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