segunda-feira, 20 de junho de 2011

Levantamento revela que crianças e adolescentes continuam sendo alvo de exploração sexual nas rodovias do Brasil

Talita Boros
Crianças e adolescentes brasileiros ainda sofrem abusos nas margens das rodovias que cortam o País. A cada dez caminhoneiros, dois admitem já terem tido relações sexuais com menores de idade e 89,6% afirmam que é comum ver a exploração sexual de meninos e meninas nas estradas. De acordo com os motoristas, a média do valor do programa com menores é de R$ 25,05. Os dados são da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”, realizada pela organização não governamental (ONG) Childhood Brasil.

Ainda que o estudo retrate uma situação cruel, deixa um alento. Os pesquisadores puderam perceber uma redução no número de adultos envolvidos no sexo com crianças e adolescentes. Quando indagados se já saíram com menores de idade, 82,1% dos caminhoneiros disseram que não em 2010. Na última pesquisa, realizada em 2005, esse índice foi de 63,2%. “Isso mostra que as campanhas feitas entre eles têm surtido efeito. Muito se tem falado sobre o tema, antes considerado um tabu. As pessoas estão sabendo mais e denunciando mais”, afirma Rosana Junqueira, coordenadora de programas da Childhood Brasil e uma das responsáveis pelo “Programa Mão Certa”, destinado ao combate da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias.

A pesquisa mostrou também que os caminhoneiros estão mais conscientes em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes: em 2010, 37% deles disseram saber que essa prática é errada e, por isso, eram contra, enquanto que em 2005, apenas 20,8% responderam da mesma forma. A pesquisa foi realizada com 343 caminhoneiros em sete cidades brasileiras: Porto Alegre (RS), Itajaí (SC), Cubatão e Santos (SP), Belém (PA), Natal (RN) e Aracaju (SE). Para Rosana, é importante a educação e divulgação do problema da prostituição infantil em todos os setores. “As pessoas precisam saber. São muitos os desafios para proteger as crianças e adolescentes”, destaca. Em 2010, 32% dos motoristas disseram acreditar que existe alguém explorando as crianças que estão nas estradas. Segundo o relatório, com os dados é possível perceber a implicação maior dos adultos na exploração sexual, sejam como clientes ou como exploradores (cafetões, pais ou agenciadores).

Os motoristas entrevistados também confirmaram que estão mais familiarizados com as leis e os serviços de proteção a crianças e adolescentes. A maioria disse conhecer o Conselho Tutelar (91,6%), o Estatuto da Criança e do Adolescente (76%), o Juizado de Menores (76,6%), a campanha contra exploração de crianças e adolescentes no Brasil (61,7%) e o Disque-Denúncia (56,2%). Apesar de os números ainda serem pequenos, também houve um aumento no número de caminhoneiros que já utilizaram o Disque-Denúncia: 4,9% em 2010, contra 1,3% em 2005. No levantamento anterior, apenas 12,1% disseram já ter tido algum contato com campanhas contra a exploração sexual de crianças e adolescentes. Em 2010, esse percentual triplicou, chegando a 30,4%.

As Regiões Nordeste e Norte do País são apontadas como as com maior número de crianças e adolescentes sendo explorados. Os estados mais citados pelos caminhoneiros foram Maranhão, Bahia, Pernambuco e Ceará (Nordeste), Pará (Norte), São Paulo (Sudeste), Mato Grosso (Centro-Oeste) e Rio Grande do Sul (Sul).

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