sábado, 27 de setembro de 2008

Empresas de cosméticos chegam à Índia com produtos 'branqueadores'


Entre 60 a 65% das mulheres indianas usam esses produtos diariamente.
Definição de beleza no país está ligada à tonalidade da pele.

A mulher indiana moderna é independente, dona de si – e não é obrigada a viver com sua pele escura.

Essa é a mensagem transmitida por um número crescente de companhias mundiais de cosméticos e produtos para o cuidado da pele, que estão expandindo suas linhas de produtos e verbas publicitárias para a Índia para capitalizar sobre o aumento dos orçamentos femininos. Uma linha comum engloba cremes e sabonetes que supostamente clareiam o tom da pele. Eles são normalmente divulgados com uma mensagem de “poder” sobre assumir a própria vida ou ir adiante.

Avon, L'Oreal, Ponds, Garnier, Body Shop e Jolen estão vendendo produtos de clareamento, e todos eles enfrentam uma acirrada competição de um gigante local, o Fair and Lovely, um produto da Unilever que domina o mercado há décadas.

Fair and Lovely, com uma embalagem que mostra uma mulher triste de pele escura se transformando em uma sorridente mulher de pele mais clara, já focou sua propaganda nos problemas que as mulheres de pele escura podem enfrentar ao encontrar um amor. Como um sinal dos tempos, os comerciais do produto agora mostram a pele clara dando uma vantagem diferente: ajudando a mulher a conseguir um emprego normalmente ocupado por homens, como uma locutora de partidas de cricket. “Fair and Lovely: o Poder da Beleza”, é o slogan do mais novo anúncio da companhia.

Crítica e preconceito

Não é de se surpreender que a corrida para vender produtos de clareamento da pele tenha gerado algumas críticas, com pessoas dizendo que os produtos são no mínimo ineficazes e que eles reforçam perigosos preconceitos.

Quando a Unilever vende Fair and Lovely, ela “não provoca o preconceito”, mas ela faz uso dele, diz Aneel G. Karnani, professor da Escola de Administração Stephen M. Ross da Universidade de Michigan que gradou-se em administração na Índia.

As companhias mundiais de cosméticos – que também vendem produtos de clareamento da pele por toda Ásia e nos Estados Unidos, onde são vendidos como produtos para remover marcas ou espinhas – argumentam que estão apenas dando às mulheres indianas aquilo que elas querem.

Se ofender com os produtos é “uma forma muito ocidental de olhar o mundo”, diz Ashok Venkatramani, responsável pela categoria de produtos para o cuidado da pele na unidade indiana da Unilever, a Hindustan Lever. “A definição de beleza no ocidente está ligada ao não-envelhecimento”, diz ele. “Na Ásia, está relacionada à pele dois tons mais clara”.

As vendas da Fair and Lovely têm crescido entre 15 e 20% a cada ano, diz Venkatramani.

Popularidade

Os produtos para clarear a pele são de longe os mais populares no mercado de crescimento rápido de produtos para o cuidado da pele. O mercado de US$ 318 milhões desses produtos cresceu em 42,7% desde 2001, diz a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International.

“Metade do mercado de produtos para o cuidado da pele na Índia é de cremes de clareamento”, diz Didier Villanueva, gerente da L'Oreal India, e entre 60 a 65% das mulheres indianas usam esses produtos diariamente. A L'Oreal entrou nesse mercado específico há quatro anos com produtos Garnier e L'Oreal, mas até agora tem apenas uma pequena fatia do mercado, disse ele.

A idéia da “palidez brilhante” não tem nada a ver com o colonialismo, ou idealização do modelo europeu, disse Villanueva. “É tão velha como a Índia”, diz ele, e “profundamente enraizada na cultura”.

Não se pode negar que a noção de “beleza”, como a pele clara é conhecida na Índia, está bastante arraigada na cultura. Quase todas as principais atrizes de Bollywood têm a pele bem pálida, apesar da variedade de tons de pele da população indiana de mais de um bilhão de pessoas.

Anúncios

A Índia dificilmente está sozinha em sua busca pela “beleza pálida”. A Coréia, o Japão e a China são grandes mercados para produtos de clareamento da pele. E os Estados Unidos não estão isentos. A revista Ebony publicava anúncios similares de cremes para “clareamento da pele” e “branqueamento da pele” e voltados para consumidoras negras durante os anos 50 e 60, disse Jeanine Collins, diretora de comunicação da Ebony. Esses anúncios mudaram sua mensagem durante os anos 70 e 80 para remover espinhas e manchas, disse ela.

A linha mais cara da L’Oreal, Vichy, é mais direta: a principal imagem de propaganda na Ásia mostra uma mulher abrindo o rosto como um zíper para retirar uma face manchada e mais escura para revelar uma pele mais clara e sem manchas.

“Nunca tivemos reclamações sobre as implicações sociais dos anúncios”, disse Nitin Mehta, gerente geral da divisão de cosméticos ativos da L’Oreal na Índia, que faz os produtos Vichy.

A Associação Democrática de Mulheres de Toda a Índia tem monitorado os anúncios desde os anos 90 e fica particularmente irada com anúncios que contém a mensagem “se ela não tem pele clara, não vai conseguir se casar ou ser promovida”, diz Manjeet Rathee, porta-voz do grupo de mídia da associação. A atual safra de anúncios de televisão para cremes de clareamento não é “tão aviltante” quanto as do passado, diz ela.

Tradução: Eloise De Vylder
http://g1.globo.com

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