UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM
Charles R. Swindoll
UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, as coisas vão ser bem diferentes. A
garagem não ficará lotada de bicicletas, de trilhos de trenzinhos elétricos
sobre madeira compensada, de cavaletes rodeados de tábuas, pregos, martelo e
serra, de "projetos experimentais" inacabados e da gaiola do coelho.
Poderei estacionar os dois carros nas vagas certas e nunca mais tropeçarei em
pranchas de skate, pilhas de papéis (guardados para colaborar com as obras
assistenciais da escola) ou sacos com comida para coelhos — tudo espalhado pelo
chão.
UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, a cozinha ficará incrivelmente arrumada. A pia
não ficará cheia de pratos sujos, a lixeira não ficará abarrotada de elásticos
e de copos de papel, a geladeira não ficará lotada de frascos de leite, e nunca
mais perderemos as tampas dos vidros de geleia e de ketchup e dos potes de
manteiga de amendoim, de margarina e de mostarda. A jarra d'água não será
recolocada vazia, as fôrmas de gelo não ficarão de fora durante a noite, o
liquidificador não ficará sujo, seis horas a fio, de resíduos de vitamina
preparada à meia-noite, e o mel ficará dentro do seu pote.
UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, minha querida esposa terá tempo para vestir-se
vagarosamente. Terá tempo para um banho quente demorado (sem receio de ser
interrompida por gritos assustados), tempo para cuidar das unhas da mão (e dos
pés, se desejar!) sem ter de responder a uma dúzia de perguntas e de revisar a
grafia correta das palavras, tempo para cuidar dos cabelos durante a tarde sem
ter de marcar um horário espremido entre uma visita ao veterinário para levar
um cão doente ou uma ida ao ortodontista para levar uma criança de mau humor
por ter perdido seu boné.
UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, o aparelho chamado "telefone" ficará
desocupado, sem parecer ter nascido grudado ao ouvido de um adolescente. Ele
simplesmente ficará lá... silencioso e, por incrível que pareça, pronto para
ser usado! Não ficará melado de batom, saliva, maionese, migalhas de
salgadinhos ou com palitos de dentes enfiados nos pequenos orifícios.
UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, eu serei capaz de enxergar através dos vidros do
carro. Impressões digitais de mãos e pés, lambidas e sinais de patas de
cachorro (ninguém sabe como) serão inexistentes. O banco traseiro não ficará em
completa desordem, não nos sentaremos mais em cima de pedrinhas e lápis de cor,
o tanque de combustível estará sempre cheio e (glória a Deus!) não terei de
limpar mais uma vez a sujeira do cachorro.
UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, poderemos voltar a conversar normalmente, isto é,
conversar como qualquer pessoa normal. As frases não serão intercaladas de
grosserias. "Legal!" será uma expressão em desuso. Não haverá batidas
na porta do banheiro acompanhadas de "Ande logo, estou apertado!" e
"É a minha vez" não necessitará da presença de um árbitro. E aquele
artigo de revista será lido sem interrupções e, depois, discutido longamente,
sem que o pai e a mãe tenham de esconder-se no sótão para terminar a conversa.
UM DIA,
QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, não vamos mais precisar correr atrás do rolo de
papel higiênico. Minha esposa não vai perder as chaves. Não esqueceremos a
porta da geladeira aberta. Eu não vou ter de inventar novas maneiras de desviar
a atenção das máquinas que vendem gomas de mascar... nem ter de responder à
pergunta "Papai, não é pecado você dirigir a 75 quilômetros por hora
quando a placa diz que o limite é de 55?"... nem prometer dar um beijo de
boa-noite no coelho... nem ter de ficar acordado até altas horas esperando a chegada
deles... nem ter de pedir licença para falar durante o jantar... nem ter de
suportar socos de brincadeira, mas que são realmente doloridos.
Sim, um dia,
quando as crianças crescerem, as coisas vão ser bem diferentes. Elas começarão
a partir, uma após a outra, e a casa voltará a ficar em ordem e talvez até com
um toque de elegância. O tinir da porcelana e da prata será ouvido em ocasiões
especiais. O som do fogo crepitando na lareira ecoará por todo o saguão da
casa. O telefone estará estranhamente mudo. A casa estará sossegada... calma...
sempre limpa... e vazia... e passaremos o tempo aguardando a chegada de Um Dia
mas lembrando-nos do Ontem. E pensando: "Talvez a gente possa cuidar dos
netos para que esta casa volte a ter vida!"
Do livro Histórias para o Coração, de Alice Gray (org.)
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