Sammis Reachers
Nesta semana este país gigante e ferido de patologias
genéticas que lhe embotam o raciocínio e o convívio (escolha a sigla que lhe
agradar) se viu mobilizado.
Juliana Marins, niteroiense como eu, foi vítima de uma
tragédia.
Mas sua tragédia pessoal/familiar revelou outras em seu bojo.
Logo o país ainda polarizado se viu num embate: Onde está o presidente Lula, o
Lule de tantos, que não providenciou seja o resgate do corpo vivo, seja o
translado do cadáver? Pior, enviou jatinho da FAB para resgatar antiga “comparsa
de falcatruas” dos tempos do Mensalão...
A monstruosidade de muitos se mostrou não na empatia com a
Juliana ou seus restos mortais, mas em usar um fato trágico como artefato
político, granada de concussão para tentar atordoar o outro lado.
E a monstruosidade foi prontamente respondida com outra
monstruosidade (é a guerra, baby): Lula, o Lule misógino, machista e racista
das massas bichas e machas, aprovou o gasto com o translado de corpos de
brasileiros.
Há praticamente CINCO MILHÕES DE BRASILEIROS RESIDINDO NO
EXTERIOR.
CINCO MILHÕES.
Fora os turistas.
Não, eu não quero, não posso e nem preciso pagar essa conta. Nem
o país que eles escolheram deixar para sempre ou por momento.
Mas Juliana era turista. Turista de AVENTURA, que é aquele
que escolhe o risco, e extrai do perigo, prazer. Sim, mesmo sabendo dos riscos,
mesmo apesar dos riscos. Mesmo apesar da família, seu receoso apoio ou constrangida
oposição. Ficou claro o desenho? Turista de AVENTURA. Aventurou, aventurou e
morreu. Uma tragédia. Pessoal e familiar. Arthur, filho de Campina Grande e garçon
em Barcelona, acaba de morrer em terras espanholas. Embolia pulmonar. Agorinha.
Sua morte nos comove? Adelaide, maquiadora de Nova Iguaçu, acaba de morrer em Berna,
na Suíça. Caiu de uma escada de três míseros degraus, dentro de casa. Cabeça na
quina da pia. Morreu assim como todos os CINCO MILHÕES de brasileiros no
exterior irão morrer, antes, durante e após você e eu.
Tudo isso é para expor o ridículo de nossa situação. O país não
tem que enviar jatos da FAB, esse elefante branco e voador, com seus orelhões
de dumbo ou do diabo, para resgatar criminosos “perseguidos”. E nem cadáveres,
seja de trabalhadores pátrios, seja principalmente de aventureiros.
Mas bom senso desertou de nós há uma década ou quase duas, e
a situação da inocente Juliana só serve para expor com toques de filme splatter
o horror de nossa película. Por sinal, já ouviu nossa trilha sonora? Somos o
país de Poze e Oruam, de Gusttavo Lima e de Enrique & Juliano...
Além da guerra, a política é a única ocupação onde um porco
pode entregar o máximo de sua porquidão. Uma arena onde ele pode ofertar o seu
pior para o cosmos.
Lula, como antes fez Bolsonaro, se mostra fraco ou porco
demais: Os ventos do populismo – leia-se, desejo de reeleição, essa
monstruosidade que não deveria existir – o faz lançar âncora onde quer que
possa conseguir mais votos, de um bolsa-luz (na verdade, luz elétrica de graça para
quem consome pouco), CNH gratuita para o pobre que pode comprar carro, mas não
pagar por uma carteira (?), ao translado de corpos de aventureiros. Amanhã tem
Flamengo, time de meu coração e de um terço da pátria aurirrubra: Eu e você
pagamos a conta para que um fique deitado em sua casa ou casebre assistindo a
Copa do Mundo de Clubes, luz e bolsas em dia, enquanto eu não posso, pois estou
dando expediente no trabalho. E do trabalho, na hora apertada do almoço, assisto à comoção sobre outro aventureiro que curte a vida adoidado, não compartilhando seu prazer
(justo, pois é particular), mas compartilhando sua desdita, pois pago os custos
finais de sua aventura.
Esse desejo lulista de perpetuar-se no poder, pondo em risco
a economia do país, é tão deletério quanto os arroubos golpistas e provincianos
do idiota da aldeia Bolsonaro, outro que se revelou populista, mas tarde e sem
talento, que talento no que seja sempre lhe faltou na vida.
Contra essa dualidade demoníaca de Lule x Bozo, quem se
apresenta? A direita como a tupiniquim carrega em si o vírus totalitário; a
esquerda outra que não a lulista é ainda mais perniciosa; os liberalóides
passam do ponto: propondo Estado mínimo, querem mesmo é Estado nenhum. Marina
se aquietou e aniquilou, conformada, um dos casos mais sinistros de
implosão-política-sem-escândalos da história pátria. Ciro Gomes, o eterno
injustiçado, não consegue falar a língua de nosso povo e até de nossas
"elites", feridos todos de analfabetismo funcional (o "mal do
século" brasileiro).
Estamos todos futricados, como diria meu pai.
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Sammis Reachers é escritor e editor. Paga suas contas como professor de Geografia. É licenciado também em História e em Artes Plásticas, e graduado em Biblioteconomia.
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