“Não há em Cristo Leste
nem Oeste,
nele não há Norte nem
há Sul,
mas a grande unidade do
Amor
por toda a vasta terra
inteira.”
(John Oxenham)
Por que devemos amar os
nossos inimigos? A principal razão é perfeitamente óbvia: retribuir o ódio com
o ódio multiplica o ódio e aumenta a escuridão duma noite já sem estrelas. A
escuridão não expulsa a escuridão; só a luz o pode fazer. O ódio não expulsa o
ódio: só o amor o pode fazer. O ódio multiplica o ódio; a violência multiplica
a violência e a dureza multiplica a dureza, numa espiral descendente, que
termina na destruição!
Quando, pois, Jesus diz “Amai
os vossos inimigos”, é uma advertência profunda e decisiva que pronuncia.
Não devemos confundir o
significado do amor com desabafo sentimental; o amor é algo de mais profundo do
que a verbosidade emocional. Talvez o idioma grego nos possa esclarecer sobre
esse ponto. Sim, há no Novo Testamento grego três palavras que definem o amor.
A palavra eros traduz uma espécie de amor estético ou romântico; nos
diálogos de Platão, eros significa um anseio de alma dirigido à esfera divina.
A segunda palavra é philia,
amor recíproco e afeição intima, ou amizade entre amigos. Amamos aqueles de
quem gostamos e amamos porque somos amados.
A terceira palavra é agape,
boa vontade compreensiva, criadora e redentora para com todos os homens. Amor
transbordante que nada espera em troca. Agape é o amor de Deus agindo no
coração do homem. A esse nível não amamos os homens porque gostamos deles, nem
porque os seus caminhos nos atraem, nem mesmo porque possuem qualquer centelha
divina; amamo-los porque Deus os ama. Nesse contexto, amamos a pessoa que
pratica a má ação, embora detestemos a ação que ela praticou.
Podemos compreender agora
o que Jesus pretendia quando disse “Amai os vossos inimigos”. Deveríamos
sentir-nos felizes por ele não ter dito “Gostai dos vossos inimigos”.
É quase impossível gostar
de certas pessoas; gostar é uma palavra sentimental e afetuosa. Como
podemos sentir afeição por alguém cujo intento inconfessado é esmagar-nos ou
colocar inúmeros e perigosos obstáculos no nosso caminho? Como podemos gostar
de quem ameaça os nossos filhos ou apedreja, assalta ou incendeia as nossas
casas? É completamente impossível.
Jesus reconhecia, porém,
que o “amar” era mais do que o “gostar”. Assim, quando nos convida a amar os
nossos inimigos, não é ao eros nem à philía que se refere, mas ao
ágape — boa vontade compreensiva, fecunda e redentora para com todos os
homens!
Martin Luther King Jr.
In Ilustrações Para Todas as Horas, de Moysés Marinho de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário